Finalmente o desabafo.

A madrugada foi envolvente de forma a tirar-me o sono.
Já sofri muita insônia nessa vida, mas essa tá sendo diferente, e dessa vez não venho como poesia, venho em uma ousadia de simplesmente escrever.
Eu não sei vocês, mas eu sinto uma plataforma de ar condensada, forte e isolada conosco.
04 de abril de 2020, era umas 2 da manhã, quando um turbilhão de sentimentos afloraram.
Óbvio que solidão, medo, sempre são os primeiros, seguido de desconfiança, com um ar de não esperança, de algo que você confia e é exposto, junto com uma enorme vontade de desapegar mais ainda de coisas que você sabe que não estão te fazendo bem, mas continuam fazendo, porque a minha bondade excede limites.
Me sinto um livro tão aberto, que qualquer um pode chegar folhear e jogar fora, como tem acontecido.
Me sinto tão vulnerável, que qualquer um pode chegar, amordaçar, como já vivi há muitos anos amordaçada e privada de usar da fala como forma de expressão, se apropriando dessa fala, e usando dela de forma inapropriada, sem sentido e desnorteada.
Me sinto tão sensível a ponto de qualquer um que aparecer na minha frente eu sentir a energia boa/ruim na minha frente e isso me afetar amargamente como se tivesse provando do meu próprio veneno.
Me sinto, sempre sentimento acima de tudo, porque sou sentimental, sou cheia de sangue fervendo como um rio que corre dentro de mim, intensamente preenchendo meu ser de muito amor e bondade.
Aquela bondade sem tamanho que sempre tá pronta pra servir, mas nunca para ser ouvida, ou dizer um simples não.
A gente sempre tem medo do novo, porque parece ameaçador, grande, monstruoso e nada afetuoso, e prefere voltar pra zona de conforto, achando que sempre vai ficar tudo bem, voltando pra essa zona.
Mas simplesmente não.
Estamos todos fora dessa zona de conforto, agora, e essa reunião de sentimentos mundiais, tá afetando o mundo, e chegou aqui, nesse lar onde zelava harmonia, amor, cuidado e Deus.
E essa fé com medo de pedir a Deus que aconteça o que acontecer, esteja comigo, e uma insegurança do mundo acabar e eu não ter vivido o que sempre sonhei em viver.
Sonhos que se tornam tão distantes, como a fala de reviver mais um amor refrescante, daquele que vivi não faz muito tempo, até chegar o não.
Desse não, veio todo o passado, cheio de dor, afago, maus tratos, porque me lembrei da solidão, exclusão, humilhação, que era e ainda ser preta nesse mundão!
Que o que faz lembrar de exclusão, lembro-me da rejeição, do ventre que nunca nem conheci, nem sei de onde é, o que faz, mas que ainda sofri e sofro por essa distância com um ponto de interrogação do tamanho de uma lança que sempre volta pro meu coração.
Quanta coisa né, Caroline!
Acho uma baita exposição vir dar o carão, como tenho feito na internet, esperando que sempre essas e outras milhares de exposições ajudem pessoas sentimentais como eu, a se curarem por mais doloroso que sejam se olharem no espelho e se amarem, porque é tão revoltante ser até imatura em algumas posturas porque sinto olhares, dessa exposição que se julga desnecessária.
Mas cada um tem sua forma de exprimir o que sente, para que se oriente a fim de que esses sentimentos se confundam entre linhas, rimas, palavras iguais, até subir pros ares, e causar uma baita respiração calma, sem essa crise de ansiedade, que há dias tem assolado minha alma, sem necessidade.
Esse texto não foi feito pra entender não, é só um desabafo de quem tá vinte e quatro horas ligada, no meio de um isolamento social, diante de uma pandemia, mas que ainda tem fé em seu anjo da guarda, pois acendeu uma vela, que já se apagará para que tudo se dilua nos ares assim como Oxum é Mãe das Águas e levam pelos rios profundos, toda essa agitação e excessiva necessidade de chamar atenção, de quem só queria fazer uma poesia aqui nessa plataforma digital e levar seu trabalho autoral, de uma mulher que vem se conhecendo, se curando, caindo e tropeçando para sempre ser melhor no que faz, crescer, amadurecer e ser feliz, com seus sonhos de volta a si mesma e ir fluir pelos rios em solitude e paz.

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